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23 de abril de 2025 15:59

Programa do BNDES quer colocar no bolso do catador crédito pelos benefícios ambientais da reciclagem

Programa do BNDES quer colocar no bolso do catador crédito pelos benefícios ambientais da reciclagem

Tudo pela Circularidade deve ter R$ 100 milhões de investimentos em cooperativas e associações de catadores para qualificação produtiva; programa tem potencial de aumentar renda de catadores e eliminar atravessadores.
Foto: Cooprel

Que o mundo, as cidades e a sociedade em geral tem muito a ganhar reciclando seus lixos, todos sabemos. Mas quem, efetivamente, está ganhando pelos créditos ambientais gerados pela coleta seletiva e a reciclagem? Com esse questionamento como fio condutor, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lança o Tudo pela Circularidade, programa que deseja apoiar cooperativas de catadores de materiais recicláveis em suas capacidades produtivas e financeiras. 

A iniciativa conta com investimento inicial de R$ 20 milhões do Fundo Socioambiental do BNDES, que serão usados na contratação de uma entidade gestora para tocar o projeto na ponta. 

Essa entidade vai coordenar a elaboração de editais, seleção de projetos, contratação e acompanhamento dos executores, de acordo com as realidades locais das cooperativas em todo o país. 

A ideia do banco é que somados ao investimento inicial de R$ 20 milhões, outras empresas, governos, instituições públicas e privadas se juntem ao projeto, agregando o esperado de R$ 100 milhões para a primeira fase do programa. 

“O grande problema dos resíduos e da reciclagem, é que a matéria prima é jogada na rua. Ela precisa ser recolhida. É um problema de logística. As prefeituras pagam para enterrar esse material, e não reciclar. Precisamos lidar com esse problema antes dele chegar no lixão. A ideia é criar um fundo para financiar todo esse processo”, explica o diretor do Comitê Interministerial para Inclusão Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis (CIISC), da Secretaria Geral da República, Flávio Camargo Schuch.

No Brasil, segundo levantamento feito pelo Instituto Veredas, o setor de catadores conta com 4.880 cooperativas. Essas cooperativas são responsáveis por empregar mais de 493 mil pessoas e arrecadar mais de R$ 17 bilhões em tributos. 

No Nordeste, segundo a mesma pesquisa, havia, em 2022, 103 cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis. É o caso da startup baiana SOLOS. Operando em oito estados, a SOLOS gerou R$ 4,4 milhões em renda para os catadores, coletando 1,5 mil toneladas de resíduos para reciclagem. ​

Créditos verdes para os catadores 

A principal meta do Tudo pela Circularidade é fazer chegar nas redes de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis o mercado de créditos de logística reversa (CLR), gerando mais renda e emprego aos catadores. 

A logística reversa é um dos principais instrumentos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Pela lei, diversos setores econômicos, incluindo fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos como agrotóxicos, eletroeletrônicos, entre outros, devem ter sistemas de logística reversa para que suas embalagens retornem ao ciclo produtivo ou tenham destinação adequada após o consumo. Isso deve ocorrer de forma independente do serviço público de limpeza urbana. 

Uma das formas de viabilizar a logística reversa de embalagens foi a criação de um sistema de compensação, semelhante aos “créditos de carbono”, em que as empresas podem remunerar agentes da cadeia produtiva da reciclagem que atuam na coleta, separação e reinserção desses materiais, que inclui principalmente os catadores e suas cooperativas.

O edital do BNDES pretende apoiar as cooperativas em capacitação e apoio de forma que elas possam contar com tecnologias modernas de coleta, separação e tratamento de resíduos e agregação de valor. 

O grande gargalo, explica a gestora da Cooprel, cooperativa de catadores de Maceió, em Alagoas, Patrícia Ramos de Lima, é que as cooperativas não têm recursos para investir em maquinário e outros insumos da cadeia produtiva, e com isso acabam na mão de “atravessadores”. 

“Para vender direto para as empresas e poder receber os créditos de logística reversa precisamos de prensas modernas, mais capacidade de armazenamento, e formas mais modernas de beneficiamento do material. Como não temos, vendemos para uma empresa que faz isso, e revende para as empresas que podem dar o crédito. Ou seja, não ficamos com nada, mas nós é que fazemos o trabalho”, conta a gestora. 

No evento de lançamento do Tudo pela Circularidade, a diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campello, enfatizou que a concepção do programa leva em conta que “as cooperativas recebem resíduos, separam e são remuneradas pela venda dos resíduos separados, pelo seu peso. Essa renda é frequentemente menor que um salário mínimo ou daquela de quando os catadores trabalhavam de forma autônoma nos lixões”. 

Segundo Schuch, o ponto levantado por Campello é nevral para o projeto. “É uma injustiça remunerar o catador pelo preço do que ele pega na rua, e não pelo benefício ambiental que ele tá causando, enquanto as empresas sim são remuneradas por isso”, afirmou. 

Segundo Patrícia, se a Cooprel tiver acesso aos créditos de logística reversa, os catadores terão uma receita mensal em média 50% maior. “Hoje, somos em quase 50 funcionários, mas Maceió, que conta com 5 cooperativas de catadores, não dá conta de recolher e beneficiar todo o seu lixo reciclável. Temos muito espaço para crescer, mas não temos como fazer isso sem dinheiro”, afirma. 

Lixo desperdiçado

Metade dos municípios brasileiros, onde vivem 18 milhões de pessoas, despeja resíduos em lixões. São mais de 2,5 mil lixões ainda em operação no país. Cerca de 77 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos não têm destinação adequada, o que representa cerca de 43% do total.

Um estudo do Ministério do Meio Ambiente (MMA) estima que, se o país aproveitasse os materiais recicláveis aterrados ou descartados em lixões, incluindo papel, papelão, plásticos, metais, vidro e orgânicos, o volume anual de receita ultrapassaria os R$ 38 bilhões. O valor seria suficiente para por fim em todos os lixões em operação no Brasil. 

Segundo o Governo Federal, o projeto do BNDES também pode atrair empresas interessadas em incentivar a reciclagem mediante desconto em tributos federais, como o Imposto de Renda (IR), medida que foi viabilizada com a regulamentação da Lei de Incentivo à Reciclagem, que entrou em vigor no final do ano passado.

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