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20 de março de 2025 12:02

Como a agricultura familiar de base solidária está ganhando terreno no setor de alimentos diante da alta dos preços

Como a agricultura familiar de base solidária está ganhando terreno no setor de alimentos diante da alta dos preços

Se por um lado o agronegócio ainda abocanha a maior fatia, por outro a agricultura familiar inclui na lista de compras produtos que satisfazem e dão força às economias locais. Esse é o tema da segunda reportagem da série Economia Solidária: prosperidade para pessoas e territórios
Foto: SEDUC

A alta no preço dos alimentos não tem dado trégua ao bolso dos brasileiros. Segundo estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na primeira semana de janeiro, o custo da cesta básica aumentou em 13 das 17 capitais em comparação ao mesmo mês do ano passado, e Salvador (BA) registrou a maior alta (6,22%). Em contrapartida às fórmulas próprias de preços do agronegócio, com estocagem e voltado para exportação, a agricultura familiar ligada à economia solidária aponta um caminho frutífero para alimentos mais baratos, de melhor qualidade e que fazem a economia local girar. 

As feiras da agricultura familiar, antes restritas a nichos, com pouca periodicidade e organização, já estão na agenda de muitos brasileiros que buscam alternativas ao mercado tradicional, ganhando terreno também no comércio das cidades. Parte dessa abertura de mercado vem de ações dos próprios governos estaduais, municipais e federal. 

Em Alagoas, a partir da Secretaria de Cooperativismo, Associativismo e Economia Solidária, um circuito de feiras, compras, estratégias de escoamento de produtos e também interlocução com supermercados, está alargando esse acesso à agricultura familiar de base comunitária. 

“Hoje, 44% das cooperativas cadastradas na secretaria são de agricultura familiar. Em 2024, nós compramos R$ 8 milhões dessas cooperativas em alimentos para a merenda escolar. A ideia é que o Estado dê o exemplo, criando um ambiente favorável para essas famílias”, disse Adalberon Sá, secretário executivo da pasta. 

São produtos como feijão, frutas regionais, legumes, e principalmente o arroz. “Antes dessa parceria, comprávamos arroz do Rio Grande Sul. Agora, com suporte técnico e crédito, por exemplo, todo nosso arroz é produzido no sul, mas no sul do estado de Alagoas”, conta Sá. 

Todos esses alimentos vêm de cooperativas e famílias ligadas à União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes) de Alagoas. Segundo o presidente da cooperativa, Antonino Cardozo, a entidade articula o modelo de desenvolvimento comunitário com o conceito e as estratégias de economia solidária, criando, assim, um solo firme, para as famílias agricultoras crescerem. 

“Antes não tínhamos banco comunitário, agora temos e criamos moedas sociais, então o dinheiro fica circulando na própria comunidade. Antes não tínhamos sindicato rural, agora temos. Tudo isso foi possível a partir da emancipação de muitos jovens da zona rural nas décadas de 2000 e 2010, que conseguiram estudar e agora, na Unicafes, ajudam a construir toda essa capacitação”, conta Cardozo. 

As produções mais robustas na cooperativa são a da fruticultura ligadas à cultura do coco, arroz – hoje a cooperativa estoca 300 toneladas de arroz e feijão. Ao menos 40% das vendas vão para o mercado público, por meio de leilões, e o restante é vendido para o mercado privado. 

“A partir de 2016, com a queda da (ex) presidente Dilma (Rousseff), entendemos que precisávamos nos especializar melhor no mercado privado. Hoje fazemos um trabalho muito próximo ao setor de turismo, hoteleiro, explicando a importância de não comprar uma polpa de fruta produzida fora do estado. Nem sempre o nosso produto vai ser o mais barato, mas ele certamente é muito mais importante para que a economia local esteja viva, e isso beneficia a todos”, explica o presidente da Unicafes. 

Por uma mesa farta de solidariedade 

Hoje, a economia solidária no Brasil abarca mais de 20 mil empreendimentos e organizações, envolvendo mais de 1,4 milhão de trabalhadores. São modelos que operam sob princípios de autogestão, cooperação e distribuição equitativa dos resultados. A Unicafes representa aproximadamente 700 cooperativas em todo o país. 

De acordo com o Censo Agropecuário de 2017 do IBGE, apenas 11,4% dos produtores responsáveis por estabelecimentos agropecuários no Brasil estavam associados a cooperativas, indicando potencial significativo para o crescimento do cooperativismo na agricultura familiar e na economia solidária no país.

Esse potencial está sendo notado pelo governo federal. Em dezembro de 2024, o presidente Lula sancionou a Lei 15.068/2024, conhecida como Lei Paul Singer de Economia Solidária, em homenagem ao economista que dedicou sua vida à promoção da economia solidária no Brasil. 

A nova legislação estabelece a Política Nacional de Economia Solidária e o Sistema Nacional de Economia Solidária (Sinaes),  o primeiro marco regulatório para o setor no país. A lei, seus efeitos e perspectivas podem ser melhor compreendidos na primeira reportagem da série Economia Solidária: prosperidade para pessoas e territórios, do Investindo Por Aí

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