Por Darlan Alvarenga
Para g1
Inflação de 2021 fica em 10,06%, quase três vezes a meta para o ano
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial do Brasil – fechou 2021 em 10,06%, sob forte influência dos preços dos combustíveis, segundo divulgou nesta terça-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Essa é a maior taxa acumulada no ano desde 2015, quando foi de 10,67%”, destacou o IBGE.
Em 2020, o IPCA foi de 4,52%. Foi também a primeira vez desde 2015 que a inflação ficou acima de 10%.
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Em dezembro, porém, o IPCA desacelerou para 0,73%, após ter registrado taxa de 0,95% em novembro.
Inflação ao longo dos últimos anos — Foto: Economia g1
Quase o dobro do teto da meta
Mesmo tendo desacelerado em dezembro, a inflação de 10,06% no acumulado no ano ficou bem cima do teto da meta para 2021, que era de 5,25%. Quando isso acontece, o Banco Central tem de escrever uma carta pública explicando as razões. Pelo sistema vigente, o IPCA poderia ficar entre 2,5% e 5,25% para a meta ser oficialmente cumprida. O objetivo central oficial era de 3,75%.
Foi a primeira vez desde 2015 que a inflação oficial estourou o limite do sistema de metas. Os analistas do mercado financeiro estimavam uma inflação de 9,99% em 2021, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.
A gasolina, subitem de maior peso no IPCA, subiu 47,49%, e o etanol, 62,23%. — Foto: Economia g1
Inflação em 2021 para cada um dos 9 grupos:
- Alimentação e bebidas: 7,94%
- Habitação: 13,05%
- Artigos de residência: 12,07%
- Vestuário: 10,31%
- Transportes: 21,03%
- Saúde e cuidados pessoais: 3,70%
- Despesas pessoais: 4,73%
- Educação: 2,81%
- Comunicação: 1,38%
Vilões do ano
A inflação de dois dígitos em 2021 foi puxada principalmente pelo grupo “Transportes”, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no IPCA do ano. Na sequência vieram “Habitação” (13,05%), que contribuiu com 2,05 p.p., e “Alimentação e bebidas” (7,94%), com impacto de 1,68 p.p. Juntos, os três grupos responderam por cerca de 79% do IPCA de 2021.
“O grupo dos Transportes foi afetado principalmente pelos combustíveis”, explicou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov. “Com os sucessivos reajustes nas bombas, a gasolina acumulou alta de 47,49% em 2021. Já o etanol subiu 62,23% e foi influenciado também pela produção de açúcar”.
Outros destaques de alta no grupo foram automóveis novos (16,16%), usados (15,05%), passagens aéreas (17,59%) e transportes por aplicativo (33,75%).
O maior vilão no bolso dos consumidores em 2021 foi o grupo transportes, cujos preços dispararam
21,03%, em razão da alta dos combustíveis. — Foto: Reprodução/RBS TV
A disparada da inflação em 2021 também é explicada pela alta de commodities, desvalorização do real frente ao dólar e crise hídrica, que fez disparar o preço das contas de luz. A inflação castigou de maneira mais intensa a população pobre. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos ficou em 10,16%, acima da inflação oficial.
10 itens com maior impacto na inflação do ano:
- Gasolina: 47,49% (impacto de 2,34 pontos percentuais)
- Energia elétrica: 21,21% (impacto de 0,98 p.p)
- Automóvel novo: 16,16% (impacto de 0.48 p.p.)
- Gás de botijão: 36,99% (0,41 p.p.)
- Etanol: 62,23% (0,41 p.p.)
- Refeição: 7,82% (0,29 p.p.)
- Automóvel usado: 15,05% (0,28 p.p.)
- Aluguel residencial: 6,96% (0,26 p.p.)
- Carnes: 8,45% (0,25 p.p.)
- Produtos farmacêuticos: 6,18% (0,20 p.p)
Nas despesas com habitação, a maior pressão veio da energia elétrica (21,21%). Já o gás de botijão disparou 36,99%. Nos alimentos, a variação de 7,94% foi menos intensa que a do ano anterior (14,09%), quando esta classe de despesas representou o maior impacto entre os grupos pesquisados. Entre as maiores altas no ano, destaque para café moído (50,24%) e açúcar refinado (47,87%).
O grupo dos vestuários, que tinha sido o único com queda no ano passado, fechou 2021 com a quarta maior variação (10,31%). Já a inflação de serviços registrou alta de 4,75% em 2021, após variação de 1,73% em 2020, em meio a um cenário de corrosão da renda das famílias e de fraqueza da atividade econômica.
Índices regionais
A região metropolitana de Curitiba (12,73%) foi a que teve a maior alta em 2021, enquanto que a menor inflação ocorreu na região metropolitana de Belém (8,10%). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as taxas foram de 9,59% e 8,58%, respectivamente.
Resultado de dezembro acima do esperado
O IPCA de 0,73% em dezembro ficou acima do esperado. A mediana das projeções de 35 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data era de um avanço de 0,65%. Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em dezembro, com destaque para vestuário (2,06%), que acelerou em relação a novembro (0,95%). Já o maior impacto (0,17 p.p) no IPCA do mês veio de “Alimentação e bebidas” (0,84%). O IBGE destacou as altas nos preços do café moído (8,24%), das frutas (8,60%) e das carnes, que subiram 1,38% em dezembro após uma queda de 1,38% em novembro. Já no grupo “Transportes” houve desaceleração (de 3,35% para 0,58%), explicada principalmente pelo recuo no preço dos combustíveis (-0,94%).
Previsão de estouro da meta também em 2022
O BC já tinha admitido em setembro, que a meta de inflação não seria cumprida em 2021. Com o estouro da meta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá que escrever uma carta ao ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando os motivos de o objetivo não ter sido cumprido.
A última vez em que isso aconteceu foi em 2017, porém naquela ocasião, O BC teve de explicar por que a inflação terminou o ano abaixo do piso da meta, e não acima.
A previsão do mercado para a inflação em 2022 está em 5,03%. Com isso, a expectativa é de estouro do teto do sistema de metas pelo segundo ano seguido. A meta central para o IPCA deste ano é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar entre 2% e 5%.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia.
Atualmente, a taxa Selic está em 9,25% ao ano, maior patamar em mais de quatro anos. E a perspectiva do mercado é que ela termine o ano em 11,75% ao ano.
Para o economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca, o resultado de dezembro acima do esperado reforça o cenário extremamente desafiador para o Banco Central garantir a convergência da inflação de volta às metas em 2022 e sinaliza a necessidade de novas altas na Selic. “Acreditamos que o BC deverá elevar a taxa Selic novamente em 1,25pp na reunião do mês de fevereiro, encerrando o ano por volta de 12%”, destacou.
Brasil tem a 3ª pior inflação do G20
Choques de custos em meio à pandemia afetaram a cadeia de oferta global e provocaram alta dos preços em todo o mundo. A inflação foi um problema global em 2021, mas a taxa do Brasil ficou entre as mais altas do mundo.
Relatório publicado nesta terça-feira pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que entre os países do G20, o Brasil teve a terceira maior inflação no acumulado em 12 meses até novembro, atrás somente da Argentina (5102%) e da Turquia (21,3%). Inflação no Brasil é 5ª maior da América Latina!
Na média dos países do G20 (grupo que reúne os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia), a inflação ficou em 5,9% no acumulado em 12 meses até novembro.