Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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21 de janeiro de 2025 08:53

Sealba desponta como importante fronteira agrícola do Nordeste brasileiro

Sealba desponta como importante fronteira agrícola do Nordeste brasileiro

Conheça a região formada por Sergipe, Alagoas e Bahia em uma série ´com duas reportagens especiais que destaca seu alto potencial para a diversificação agrícola
Cultivo de soja nas entrelinhas de citros na Rio Real (BA).  Foto: Sérgio de Oliveira Procópio (Embrapa Tabuleiros Costeiros).

Já abordada em matéria anterior no Portal Investindo Por Aí sobre as fronteiras agrícolas do Nordeste, a região de Sealba destaca-se como uma área de alto potencial produtivo no Brasil. A série de reportagens especiais com duas matérias produzida pela repórter Júlia Dal Bello explora o potencial da região. O nome é um acrônimo criado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), reunindo partes de Sergipe, Alagoas e do nordeste da Bahia. Ao todo, são 171 municípios com características climáticas e de solo propício, especialmente para o cultivo de grãos.

Segundo o diretor de Governança e Informação da Embrapa Sede, Alderi Araújo, a delimitação geográfica do Sealba, realizada pela Embrapa, tem um impacto direto nas políticas públicas voltadas para pequenos e médios produtores. 

“A construção de políticas públicas passa necessariamente pela definição dos territórios nos quais elas devem ser implementadas. Os limites geográficos que definem uma região são estabelecidos pelos fenômenos que nela ocorrem e que são passíveis de transformação por meio da intervenção de políticas públicas. Obviamente a diversidade do modelo fundiário conduzirá a uma maior diversidade de políticas a serem implementadas, mas não representa um impeditivo para o desenvolvimento desse território”, explica Alderi. 

Embora o conceito de Sealba tenha sido introduzido há alguns anos, e ganhado destaque em notícias a partir de 2019, o território ainda é pouco conhecido pelo público em geral e subaproveitado no âmbito agrícola. Identificada como uma das mais recentes fronteiras agrícolas do país, a região enfrenta desafios para se consolidar como um polo produtivo, mesmo com condições naturais favoráveis.

Leia a primeira matéria da série: Sealba – potência na fronteira agrícola do Nordeste brasileiro, e saiba mais sobre esse território desconhecido dessa região, considerada como uma nova fronteira.

A identificação técnica

Definida pela Embrapa Tabuleiros Costeiros como área de alto potencial agrícola, o Sealba ainda enfrenta baixa adoção prática, limitada por falta de investimentos e reconhecimento. 

Procurada pela equipe do Portal Investindo Por Aí, a assessoria da Embrapa Tabuleiros Costeiros não retornou até o fechamento desta matéria.

Onde fica e o que torna o Sealba estratégico?

Localizado nos tabuleiros costeiros do Nordeste, o Sealba ocupa 36% de Alagoas, 33% de Sergipe e 31% do nordeste da Bahia. A delimitação da área teve como base um volume histórico de chuvas acima de 450 mm entre abril e setembro, período que garante condições ideais para o cultivo de grãos.

Região de abrangência do Sealba. Elaboração: Marcus Aurélio Soares Cruz (Embrapa Tabuleiros Costeiros).

Essa característica permite ao Sealba um calendário de plantio diferenciado, sincronizado com o hemisfério Norte. Esse fator gera vantagens competitivas, como o uso de maquinário agrícola ocioso de regiões vizinhas e a formação de polos de sementes de alta qualidade.

Produção agrícola e diversificação

O milho é o principal produto agrícola de Sergipe, representando 52% da produção estadual, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que posiciona o estado como um dos maiores produtores de milho do Nordeste, ficando atrás apenas dos estados que compõem a fronteira agrícola do Matopiba (Maranhão, Bahia e Piauí). Já em Alagoas, embora a cana-de-açúcar seja a cultura tradicional, a região avança na diversificação com a soja na rotação de culturas, além de investimentos no “trigo tropical” e no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

Outro destaque é o cultivo de grãos de soja com altos teores de óleo e proteína, tornando-se um insumo de valor agregado para a indústria de rações. 

Comparação com o Matopiba

Embora o Sealba e o Matopiba compartilhem características de clima e solo, suas dinâmicas agrícolas são distintas. Enquanto o Matopiba conta com grandes propriedades e uma vasta área agricultável de até 13,6 milhões de hectares, o Sealba se caracteriza por pequenas e médias propriedades e um território de 5 milhões de hectares.

No entanto, o adensamento populacional do Sealba — com 5 milhões de habitantes distribuídos na mesma área — aponta para desafios logísticos e sociais, além de oportunidades para práticas agrícolas mais sustentáveis e intensivas.

Época de plantio diferenciada em relação ao Centro-Sul e Matopiba

Na maior parte das regiões agrícolas do Brasil, o plantio da safra de grãos ocorre de setembro a dezembro, durante a primavera e o verão. No entanto, no Sealba, o cultivo de grãos é realizado entre o final de abril e o início de junho, no outono e inverno, o que traz vantagens estratégicas. Entre os benefícios, destacam-se a possibilidade de preços mais altos na colheita e o uso de máquinas agrícolas ociosas do Matopiba, como colheitadeiras disponíveis entre agosto e novembro. Além disso, a região permite o uso de sementes recém-colhidas e de alta qualidade fisiológica, provenientes de campos do Centro-Sul e Matopiba.

Araújo aponta que o principal benefício de um calendário agrícola diferenciado de plantio na região que compreende o Sealba em relação às principais regiões produtoras do Brasil está associado à possibilidade de oferta de produtos ao mercado no período de entressafra nas demais regiões.

“Neste sentido há dois aspectos que devem ser considerados: a disponibilização de produtos no período em que a maioria das regiões produtoras do país já comercializou sua safra, o que pode contribuir para a obtenção de preços que remunerem melhor os produtores e, ao mesmo tempo, o acesso que a população terá a produtos que já podem estar em fase de escassez, contribuindo, assim, para a segurança alimentar e nutricional da população. Além disso existe a possibilidade de utilização da logística de máquinas e implementos disponíveis em outras regiões produtoras que podem ser terceirizados e as condições de clima e solo mais favoráveis, que podem permitir maiores produtividades e produtos de melhor qualidade, especialmente em se tratando de grãos”, afirma o diretor.

Outro diferencial do Sealba é o clima favorável ao cultivo de grãos. As chuvas ocorrem no final do outono e no inverno, coincidindo com temperaturas mais baixas, que podem chegar a 18 °C durante a noite, mesmo em áreas de baixa altitude. Essas condições reduzem a respiração das plantas, favorecendo a produtividade de culturas como milho e soja. Além disso, o período de enchimento de grãos em agosto e setembro, com temperaturas mais amenas, resulta em uma soja rica em óleo e proteína, ideal para a produção de farelo superproteico, valorizado no mercado de rações.

Possibilidade da região de se tornar um polo de produção de sementes de soja

Devido à época de plantio diferenciada, a soja na região do Sealba é colhida entre a segunda quinzena de agosto e o final de outubro, podendo ofertar sementes de alta qualidade fisiológica a regiões que plantam entre outubro e dezembro. Além disso, a probabilidade da ocorrência de chuvas no período da colheita é menor em relação a outras regiões produtoras de soja, o que proporciona aumento na qualidade da semente.

A maioria das unidades de beneficiamento de sementes (UBS) localizadas no Matopiba e Centro-Sul estão inativas nesse período, podendo ser otimizadas para o beneficiamento das sementes colhidas no Sealba. Empresas de sementes começam a se instalar na região, especificamente no Estado de Alagoas, com foco na produção de sementes de milho, soja, feijão, arroz e sorgo.

Mercado regional para a compra de milho e soja para a fabricação de rações para alimentação animal

Na própria região do Sealba e em estados vizinhos, a demanda por grãos é elevada, principalmente para atender à produção de aves, suínos e bacias leiteiras do Nordeste, como as de Nossa Senhora da Glória (SE), Batalha ( AL) e Garanhuns (PE).

Expansão da ILPF e florestas plantadas impulsiona a recuperação de áreas

A implementação da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) no Sealba tem avançado com unidades que combinam espécies arbóreas, como gliricídia e coqueiro, com a criação de bovinos e ovinos, além do cultivo de milho.

A região também conta com áreas de maior declividade, pouco aptas à agricultura convencional, mas com boa precipitação anual, ideais para o cultivo de eucalipto, acácia e sabiá. Esse potencial tem atraído grandes empresas, que ampliam o plantio de florestas, especialmente de eucalipto, no Nordeste da Bahia e no Norte de Alagoas.

Aptidão para produção de raízes, fruticultura e gramíneas energéticas

O Sealba tem se destacado na produção de culturas como mandioca, batata-doce e inhame, que apresentam alto desempenho e potencial para expansão, podendo atender a mercados nacionais e internacionais.

A região é também a principal produtora de citros no Nordeste e se destaca na produção de coqueiro (anão e gigante), bananeira, abacaxizeiro, pinheira e mangabeira, com um grande potencial para se tornar um polo de fruteiras nativas tropicais, agregando valor em pequenas agroindústrias e gerando renda para agricultores familiares.

Cultivo de citros em Umbaúba, SE. Foto: Sérgio de Oliveira Procópio (Embrapa Tabuleiros Costeiros).

Araújo acredita que o desenvolvimento do Sealba pode atrair investimentos externos, especialmente em fruticultura e sistemas sustentáveis. “A agricultura é uma grande geradora de emprego e renda, exigindo uma ampla variedade de serviços, principalmente em regiões com aptidões diversificadas para diferentes produtos. Essas atividades demandam produtos e serviços para o atendimento imediato às práticas de implementação e manejo dos cultivos, o que cria a necessidade de investimentos locais para atender à demanda dos produtores de forma eficaz”, afirma.

O diretor também destaca a importância dos sistemas sustentáveis de produção. “Hoje, sua adoção é essencial em qualquer sistema produtivo, caso contrário, o produto pode não se posicionar adequadamente no mercado, diante de um público cada vez mais exigente por qualidade e por práticas que preservem o meio ambiente e contribuam para a redução dos impactos das mudanças climáticas”, complementa.

Inclusive, a região apresenta alta aptidão climática para a produção de gramíneas energéticas, como cana-energia, capim-elefante e sorgo, que podem ser utilizadas na produção de energia elétrica e etanol, contribuindo para o desenvolvimento de uma matriz energética sustentável no Nordeste, especialmente diante dos desafios com os reservatórios de água e a dependência de combustíveis não renováveis.

No Baixo São Francisco, o potencial para a irrigação de fruteiras e arroz também se destaca, ampliando as possibilidades de produção.

Proximidade a portos

Dois importantes portos estão localizados na região do Sealba: o Porto de Maceió, em Alagoas, e o Porto de Barra dos Coqueiros, em Sergipe. Na próxima reportagem “A exportação da produção agrícola do Sealba: o caminho do campo aos portos”, você confere uma análise sobre os impactos econômicos dessa infraestrutura logística e como a eficiência desses portos tem beneficiado diretamente os produtores rurais e fortalecido as cadeias produtivas da região.

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