O Banco do Nordeste (BNB) enviou R$9,5 bilhões em crédito para os projetos enquadrados na política da Nova Indústria Brasil (NIB), programa lançado em janeiro de 2024 pelo governo federal. O valor, correspondente ao primeiro ano de efetivação, foi repassado para toda área de atuação do banco, ou seja, Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo.
Apesar da Nova Indústria Brasil ter sido efetivamente lançada em janeiro de 2024, o BNB já aplicou, considerando os anos de 2023, 2024 e 2025 (até o mês de março), cerca de R$24,87 bilhões em créditos. Segundo o diretor de Planejamento do banco, José Aldemir Freire, esse valor foi investido nas missões 01 (Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais), 03 (Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis) e 05 (Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas) da NIB, áreas nas quais o Banco tem maior poder de contribuição.
Assim, dos R$9,5 bilhões destinados em 2024, cerca de R$4,3 bi, foram contratados por indústrias com projetos que envolvem bioeconomia, descarbonização e transição energética. Setores que envolvem infraestrutura, saneamento e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva, ficaram com a segunda maior parte da fatia, cerca de 3,9 bilhões. Por fim, os cerca de R$1,3 bi restante foi destinado para as redes agroindustriais sustentáveis para a segurança alimentar.
Ainda de acordo com Freire, os critérios adotados pelo BNB para a distribuição desse dinheiro levaram em consideração as fontes de recursos trabalhadas e as linhas de financiamento disponibilizadas pelo BNB, especialmente no âmbito do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que dialogam e que se encaixam nos temas de cada uma das missões, a exemplo das aplicações na linha FNE Verde Agroindustrial e FNE Verde Infraestrutura.
Em relação aos segmentos que receberam o benefício do banco, a agricultura familiar, assim como os setores rurais, industriais (contemplados ao agroindústrias) e da infraestrutura foram as áreas alcançadas com o crédito do BNB. Rita Grangeiro, proprietária da Fazenda Grangeiro, em Paracuru (CE), e uma das beneficiadas, utilizou recursos do FNE Inovação em sua produção de água de coco para adquirir equipamentos para envase mecânico e implantar um sistema de geração de energia fotovoltaica.
“O Banco do Nordeste sempre foi parceiro da Fazenda Grangeiro, financiando tudo que precisamos. Foi essencial no crescimento da propriedade que visa sempre a geração de emprego, o social e as políticas ambientais. Daí surgiu a Soulcoco, para viabilizar o processo de envase de água de coco pioneira no processo de microfiltração, com a transferência de tecnologia da Embrapa”, afirma a empreendedora.
Dessa forma, com 70 hectares de área plantada e 50 colaboradores, a empresa reduziu despesas e aumentou a qualidade do produto agregando mais valor. Fazendo com que a marca conseguisse espaço no comércio da capital.
Como parte de um esforço para produzir um desenvolvimento mais sustentável para o Nordeste, o site perguntou se, depois de enviado os créditos oferecidos pelo BNB, há algum tipo de fiscalização e, consequentemente, sanções para empresas e beneficiados que não cumpram com os acordos firmados no momento de aquisição do crédito. Em resposta, José Freire afirmou que o banco, de maneira geral, já possui em seu processo de análise o atendimento a requisitos e critérios socioambientais vinculados ao crédito, havendo a possibilidade, prevista em contrato, de aplicação de penalidades em torno do seu descumprimento.
Ao ser perguntado se é possível observar os impactos sociais e econômicos que o aporte de R$9,5 bilhões está promovendo no desenvolvimento sustentável da região, Freire revela que o banco vai além dos créditos destinados ao NIB. Segundo ele, em 2024, cerca de 72,4% do total de aplicações do BNB (R$61,28 bilhões) é considerado de contribuição positiva, ou seja, que contribui em termos sociais ou ambientais. O diretor ainda enaltece o trabalho do banco ao comentar sobre a atuação do BNB. “O Relatório de Administração de 2024 do BNB traz uma sessão específica (“Impactos Econômicos, Sociais, Ambientais e Climáticos”) nos quais podem ser observados os impactos decorrentes desses financiamentos, especialmente aqueles vinculados ao microcrédito produtivo orientado urbano e rural, onde o BNB é referência nacional, nas infraestruturas, com destaque para a geração de energia elétrica por fonte renovável e para o saneamento básico”.
As ações tomadas pelo Banco do Nordeste em relação ao desenvolvimento sustentável da região evidenciam um alinhamento com as metas de neo-industrialização estabelecidas pelo governo federal, que por meio de iniciativas como a própria Nova Indústria Brasil, mostram uma preocupação com o crescimento econômico do país e o meio ambiente, pautas sempre levantadas pelo presidente Lula desde a época de campanha. Freire acredita que o Nordeste é um “terreno ideal” para o desenvolvimento sustentável tão almejado.
“A recuperação da atividade industrial é fundamental para a geração de renda e emprego no país e na região. Em paralelo, a atividade industrial em bases sustentáveis precisa estar associada a esse novo ciclo, no qual se destacam processos de descarbonização e, para tanto, a utilização intensiva de energia por fonte renovável. Nessa concordância, se vislumbram inovações e oportunidades nas quais a Região Nordeste apresenta diferenciais climáticos em termos mundiais, com excelentes índices para a geração de energia eólica e solar”, afirma o diretor.
José Freire ainda continua, destacando a geração de energias renováveis na região, como o hidrogênio verde (Vale lembrar que o IPA fez uma série de reportagens destacando a produção de H2V no Nordeste) e conclui destacando que o desenvolvimento sustentável no Nordeste precisa ser visto a partir de um cenário de oportunidades, gerando soluções estruturadas para a geração de emprego e renda, com foco na apropriação de conhecimentos, inovação, processos industriais, e não apenas a partir de um ponto de vista de exportação de commodities.