“Todos os dias, milhares de famílias almoçam e jantam aquilo que o mar dá.” A fala é da professora de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Andreia Carvalho, e pode parecer que ela está se referindo a peixes e frutos do mar, mas ela está falando não só da pesca como atividade econômica ligada diretamente aos oceanos, mas do conceito de Economia do Mar como um setor econômico próprio, que abrange atividades como turismo náutico, pesca, aquicultura e o desenvolvimento de portos.
Nesta quinta-feira (13) a Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea) realizou o 1º Fórum de Economia do Mar. O evento reuniu especialistas e lideranças do setor marítimo para debater as oportunidades e os desafios para que o mar seja encarado como uma fonte econômica estrutural e estruturante.
A professora da UFRGS defende que para o mar ser considerado um setor da economia ele precisa ser analisado a partir do principal indicador econômico brasileiro, o Produto Interno Bruto (PIB).
“Só dessa forma poderemos planejar políticas públicas, ter indicadores de crescimento e orientar investimentos. As soluções baseadas no oceano, tanto para o desenvolvimento econômico, quanto para enfrentar a crise climática, serão determinantes para o futuro das cidades e populações”, afirma a especialista em Economia do Mar.
Essas soluções dão corpo ao que o diretor da WWl Brasil, Eduardo Athayde, chamou no fórum de Amazônia Azul. “Precisamos fazer investimento de ESG e Tecnologia da Informação voltados para os ecossistemas marinhos, energia marítima, sustentabilidade dos territórios e na produção de bens e serviços”, afirmou o diretor da WWl Brasil, instituto de pesquisa com foco em sustentabilidade.
Economia azul da cor do mar (alagoano)
Alagoas possui 16 cidades localizadas à beira-mar. Nessas cidades, vivem pouco mais de 40% da população de todo o estado, reforçando a relevância do mar como recurso estratégico para as economias locais.
Esta relevância já se expressa no ranking dos maiores Produtos Internos Brutos (PIB) do estado. Entre os cinco maiores PIBs estão a capital Maceió, Coruripe e Marechal Deodoro, três cidades litorâneas.
Em Maceió, além do setor de serviços, a atividade portuária desempenha um papel central na economia azul. Em 2024, 1.700.906 toneladas de cargas. Colado ao transporte de cargas está o de passageiros. A estimativa da administração do Porto de Maceió é que as temporadas de 2025 façam desembargar 8 mil passageiros de cruzeiros na cidade.
Segundo levantamento do Observatório da Indústria da Fiea, lançado em razão do fórum, do total de empresas ligadas à Economia do Mar, 92% (9.967) são do setor de serviços, com prevalência para restaurantes, bares, e empresas alimentícias e de bebidas. Na sequência vêm as empresas de manufatura (535), transporte (321), recursos vivos (29), energia (16), e defesa (2).
“O pico de ocupação de postos de trabalho diretamente ligados à Economia do Mar foi registrado em 2023, com ao menos 23.682 empregos gerados. A imensa maioria desses postos estão nas cidades mais turísticas: Maceió e Maragogi”, explicou Beatriz Almeida, pesquisadora da Fiea.
O levantamento mostra ainda que, embora o setor de alimentos e bebidas, seguido pelo de agências de turismo, fiquem com a maior fatia das oportunidades trazidas pelo mar, é o setor hoteleiro hoje o que está em maior expansão.
Em pouco mais de um ano, a projeção é que ao menos 16 grandes hotéis sejam inaugurados no estado, impulsionados por investimentos de grandes grupos, como Tropicalis e Ritz.
Manufaturas do Mar
As chamadas manufaturas do mar são todas as atividades de construção, manutenção e extração que envolvem matéria-prima beneficiada pelo mar ou produtos destinados às águas salgadas. Em Maceió há pelo menos 178 empresas desse tipo, o que representa 33% do estado. A maior parte dessas empresas são as peixarias (66% em Alagoas).
Mas há destaque também para empresas de outro porte, como é o caso do Estaleiro Flypper, que investiu cerca de R$ 50 milhões na expansão da produção de lanchas e barcos da marca Phoenix.
O fórum foi patrocinado pelo Sebrae com apoio do Porto de Maceió, Marinha do Brasil, Soamar-AL e Associação Comercial de Maceió.