Uma inovação desenvolvida pela Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza (CE), promete fortalecer o mercado de alimentos plant-based e funcionais no Brasil. Trata-se de um produto análogo a queijo cremoso simbiótico feito a partir de amêndoas de caju quebradas, uma alternativa nutritiva e sustentável aos queijos tradicionais. O desenvolvimento une ciência e valorização de matérias-primas regionais, em uma proposta que mira tendências crescentes de consumo consciente e alimentação saudável.
A proposta é ambiciosa: entregar ao consumidor um alimento de base vegetal que simula as características sensoriais do queijo, mas enriquecido com propriedades funcionais. O produto é considerado simbiótico, por combinar probióticos — bactérias benéficas ao organismo — e prebióticos, que servem como alimento para essas bactérias. Essa associação potencializa benefícios à saúde intestinal, imunidade e bem-estar geral.
A matéria-prima utilizada é a amêndoa de castanha-de-caju quebrada, um insumo que, apesar de ter menor valor comercial, mantém o mesmo valor nutricional das amêndoas inteiras. O uso dessas amêndoas reduz desperdício e agrega valor a um produto já importante para a economia nordestina. Em 2022-2023, a produção global de castanha-de-caju alcançou 1,09 milhão de toneladas, sendo o Brasil responsável por um volume expressivo, concentrado principalmente na região Nordeste. O setor movimenta anualmente cerca de US$ 100 milhões, gerando emprego e renda em várias comunidades produtoras.
Do ponto de vista nutricional, as amêndoas de caju se destacam pelo perfil balanceado de proteínas (20,2g/100g), gorduras saudáveis, fibras e uma variedade de aminoácidos essenciais. Além disso, são fonte de vitaminas como a E e a B3 e contêm compostos bioativos reconhecidos por seus efeitos antioxidantes.
O processo de fabricação do queijo simbiótico envolve várias etapas: tratamento térmico para redução de contaminação, hidratação, trituração, fermentação com culturas probióticas (Bifidobacterium animalis BB-12), e adição de ingredientes como óleo de coco, sal e frutooligossacarídeos (FOS), que funcionam como prebióticos. A formulação final contém 9,17g/100g de FOS, atendendo aos critérios da legislação brasileira para alimentos funcionais.
O produto passou por testes sensoriais com bom desempenho. Em avaliação realizada nove dias após a fabricação, a aceitação global recebeu nota média de 7, equivalente a “gostei”, com intenção de compra entre “provavelmente compraria” e “certamente compraria”.
Além dos benefícios nutricionais, a inovação atende a um mercado em expansão. A demanda por produtos análogos aos de origem animal cresce impulsionada por consumidores flexitarianos, preocupações ambientais, éticas e de saúde. Segundo estimativas da Mordor Intelligence, o mercado global de alimentos funcionais deverá crescer dos atuais R$ 186 bilhões para R$ 213 bilhões até 2028.
O projeto contou com financiamento do CNPq e da própria Embrapa, além de parcerias com empresas do setor, como a Usibras, que doou amêndoas utilizadas no desenvolvimento. A criação do queijo simbiótico reforça o potencial do Brasil na pesquisa e produção de alimentos saudáveis, sustentáveis e alinhados às tendências globais.