O Boletim Macro Regional do Nordeste elaborado pela Fundação Getúlio Vargas no fim de março aponta para uma expressiva vantagem de crescimento da região em comparação ao restante do país, e faz alertas para uma possível desaceleração econômica nacional em 2025, o que pode impactar essa expansão da economia nordestina.
Segundo o boletim, em 2024, foi registrado um crescimento significativo de 4,0% no acumulado do ano, um pouco acima da média do Brasil de 3,8%, conforme o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).
Reforçando essa dinâmica, em dezembro de 2024, na comparação com o ano de 2023, o crescimento da região foi de 4,9% e, em relação ao mês anterior, o avanço foi de 0,6%, enquanto a média do Brasil apresentou, respectivamente, crescimento de 2,4% e retração de 0,7%. E quando falamos em crescimento regional e do país, o Rio Grande do Norte e Ceará estão ranqueados como o segundo e terceiro maiores crescimentos do Brasil em 2024.
Olhando para os dados setoriais, a atividade industrial geral na região Nordeste apresentou crescimento de 2,5% na comparação com 2023, inferior à média nacional de 3,1%. Isso se deve, principalmente, à queda da sua indústria extrativa (8,4%), que são as atividades ligadas à extração de minerais, petróleo e gás.
No volume de serviços, Sergipe se fez notar, com forte crescimento de 7,1%. Por outro lado, Ceará (+0,9%) e Bahia (+1,1%) tiveram os desempenhos mais modestos. A média nacional foi de expansão de 3,1%.
O relatório mostra que no desempenho do comércio varejista e comércio ampliado, no agregado de 2024, os resultados se mostraram bastante positivos e, em ambos os casos, todos os estados nordestinos apresentaram crescimento acima da média do Brasil.
“Quando fizemos a análise por setor, os serviços de atividades turísticas e os serviços prestados às famílias foram os destaques, registrando crescimentos robustos, impulsionados pela melhoria da renda e pelo aquecimento do mercado de trabalho, que aumentaram a demanda por lazer, turismo e serviços pessoais na região”, explica a coordenadora geral e técnica do boletim, Isadora Gonçales.
O destaque no primeiro caso foi a Paraíba (com o segundo maior avanço nacional) e o Ceará; e no segundo, também a Paraíba, e Pernambuco.
Sinal amarelo para o mercado de trabalho
A parte de mercado de trabalho também reforça as boas informações de 2024 para a região, com a taxa de desocupação do ano estimada em 8,6%. Pernambuco e Bahia apresentaram as maiores taxas de desocupação, com 10,2% e 9,9%, respectivamente. Por sua vez, a menor taxa de desocupação no Nordeste em 2024 foi a do Ceará, calculada em 6,5%.
Em termos ainda de ocupação, segundo os dados do CAGED, o saldo de empregos formais da região Nordeste em 2024 foi positivo, com mais de 330 mil vagas geradas. No entanto, janeiro deste ano apresentou redução de 2.671 postos de trabalho.
“Esse movimento de queda já tinha ocorrido em dezembro/24, ressaltando a importância de monitorar esses resultados nos próximos meses para verificar se de fato vai se confirmar a tendência de arrefecimento do mercado de trabalho em 2025, com taxas de desocupação mais elevadas do que as observadas no ano passado”, afirma o pesquisador da FGV João Mário Santos.
Os pesquisadores chamam atenção, porém, para os indicadores econômicos positivos para o Brasil e principalmente a região Nordeste em 2024; o último trimestre do ano passado para o Brasil já mostrou um cenário de desaceleração mais acentuada no ritmo de crescimento.
O consumo das famílias no país foi mais negativo que o previsto (-1%), e com reflexos no mercado de trabalho. Isso deverá ser mais presente em 2025, com os efeitos da política monetária sentidos mais fortemente, o que certamente se refletirá também nos indicadores econômicos dos nordestinos, afirma o estudo.