A Região Nordeste continua sendo a principal origem dos fluxos migratórios internos do Brasil, de acordo com os dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 19,2 milhões de brasileiros que vivem fora do estado onde nasceram, 10,4 milhões (54,2%) são naturais do Nordeste. Desses, 6,8 milhões (65,5%) vivem hoje na Região Sudeste.
A Bahia concentra o maior número de emigrantes da região: 3,4 milhões de baianos residem em outros estados, consolidando o estado como o segundo maior emissor de população do país, atrás apenas de Minas Gerais.
Apesar dessa elevada saída de moradores, o Nordeste mantém um dos índices mais altos de permanência populacional. “96,6% da população residente na região nasceu ali”, apontam os dados do Censo, o que demonstra o baixo nível de recepção de migrantes de outras regiões.
Entre 2017 e 2022, o Nordeste recebeu 746 mil pessoas e perdeu 995 mil, resultando em um saldo migratório negativo de 249 mil habitantes. No entanto, segundo o analista Marcelo Dantas, da equipe de divulgação do IBGE, “apesar de um saldo negativo expressivo, o resultado representa uma redução forte frente ao saldo negativo de mais de 700 mil pessoas observado no Censo de 2010”.
Bahia perde, Paraíba atrai
No recorte por estado, a Bahia teve o maior saldo negativo do Nordeste, com 327.323 saídas e 285.774 entradas, resultando em perda de –41.594 pessoas. Mesmo com o maior PIB da região (R$ 426,5 bilhões em 2022), o estado ainda enfrenta desafios estruturais, como baixa formalização do emprego e desigualdades regionais, especialmente no semiárido e no oeste, que contribuem para o êxodo.
Em contrapartida, a Paraíba foi o único estado do Nordeste com saldo positivo no período, com 119.695 entradas e 88.743 saídas, totalizando ganho líquido de +30.952 pessoas — taxa de +0,78%. A reversão dessa tendência migratória começou nos anos 2000 e tem se consolidado. João Pessoa e Campina Grande são os principais polos de atração, impulsionados pelo crescimento nos setores de serviços, tecnologia, educação e políticas públicas voltadas à retenção e ao retorno de migrantes.
O Ceará manteve relativa estabilidade demográfica, com 135.791 entradas e 136.488 saídas, saldo de –697 pessoas. A posição estratégica como hub logístico, polo industrial e destino crescente em energia renovável e turismo sustenta esse equilíbrio.
Outros estados nordestinos registram perdas
- Pernambuco: –41.159 pessoas (–0,43%)
- Maranhão: –36.601 (–1,19%)
- Piauí: –13.274 (–0,41%)
- Alagoas: –42.430 (–3,05%) – a maior taxa negativa do Nordeste
- Sergipe: –6.036 (–0,61%)
- Rio Grande do Norte: –4.633 (–0,13%)
O cenário reforça o histórico de êxodo nordestino, mas também revela desaceleração no ritmo das perdas, à medida que polos urbanos regionais ganham capacidade de reter e atrair população.
Santa Catarina assume liderança nacional
No cenário nacional, Santa Catarina superou São Paulo e se tornou o estado com o maior saldo migratório entre 2017 e 2022. Foram 503.580 entradas e 149.230 saídas, saldo positivo de +354.350 pessoas — taxa de +4,66%.
Já São Paulo registrou, pela primeira vez desde 1991, saldo negativo de –89.578 pessoas. Outros estados com ganhos significativos foram:
- Goiás: +186.827
- Minas Gerais: +106.499
- Mato Grosso: +103.298
Esses dados indicam uma nova geografia migratória no Brasil, onde qualidade de vida, estabilidade econômica e acesso a serviços públicos tornam-se determinantes para a movimentação populacional.
“O Sudeste registrou a primeira perda regional desde 1991. Essa região deixa de ser a que apresentava o maior saldo regional positivo nos censos anteriores para se tornar perdedora líquida de pessoas em 2022”, ressalta Marcelo Dantas, do IBGE.
Tendências nas demais regiões
- Região Norte: pela primeira vez registrou saldo negativo (–201 mil), com 231 mil entradas e 432 mil saídas.
“É uma reversão num padrão regional do Norte, que historicamente mais recebia migrantes do que enviava”, destaca Dantas. - Região Sul: obteve o maior saldo regional do país, com 362 mil pessoas, em grande parte impulsionado por 612 mil entradas.
- Centro-Oeste: manteve padrão de crescimento, com 595 mil entradas e 387 mil saídas, saldo de +209 mil. Segundo o IBGE, esse fluxo está relacionado à expansão agrícola, infraestrutura e fortalecimento dos polos urbanos.
Fluxos migratórios se mantêm estáveis no Brasil
No total, o Brasil registrou 4,7 milhões de deslocamentos entre estados entre 2017 e 2022, número semelhante aos 4,6 milhões observados entre 2005 e 2010, indicando estabilidade no volume de migração interna, mas com novas dinâmicas regionais em formação.