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11 de fevereiro de 2025 17:56

Série especial: Piauí desponta como nova potência agrícola do Brasil

Série especial: Piauí desponta como nova potência agrícola do Brasil

Matéria da série: "Piauí – O crescimento exponencial de um gigante agrícola", explora como o estado alcançou um aumento de 384% na produção de grãos em oito anos
O município de Piracuruca se destaca com a colheita de soja, atraindo investidores para o cerrado do Norte do Piauí. Foto: divulgação/TV Clube

O estado do Piauí, localizado na Região Nordeste, vem se consolidando como um dos principais polos agrícolas do Brasil, destacando-se pela rápida expansão do setor nos últimos anos. Já abordado em matérias anteriores no Portal Investindo Por Aí sobre o expressivo crescimento da produção agrícola, o Piauí desponta como uma área de alto potencial produtivo na região.

A série de reportagens especiais, produzida pela repórter Júlia Dal Bello, explora o impacto econômico e agrícola do estado. Com uma área de 251.616,823 km² e 224 municípios, o Piauí reúne condições climáticas favoráveis, solos férteis e investimentos em tecnologia, fatores que têm consolidado sua posição como um dos maiores produtores de grãos do Brasil, especialmente soja e milho.

Nos últimos anos, a produção agrícola do Piauí registrou um crescimento de 384%, saltando de R$2,6 bilhões em 2015 para quase R$13 bilhões em 2023, segundo dados do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse crescimento expressivo é impulsionado principalmente pela produção de grãos, que posiciona o estado como um destaque no agronegócio nacional.

Leia a primeira matéria da série: Piauí – O crescimento exponencial de um gigante agrícola, e conheça mais sobre essa nova fronteira produtiva do Nordeste.

Principais destaques econômicos e agrícolas

A produção de soja no Piauí cresceu de R$2,6 bilhões em 2015 para R$13 bilhões em 2023, consolidando o estado como o terceiro maior produtor de soja do Nordeste, atrás apenas da Bahia e do Maranhão, com uma produção de 2,02 milhões de toneladas. 

O cultivo está concentrado em cinco municípios, responsáveis por 75% da produção estadual, com destaque para Baixa Grande do Ribeiro, Uruçuí e Ribeiro Gonçalves. Aproximadamente 74,5% da soja é escoada pelo Porto de Itaqui, no Maranhão. 

Plantação de soja em Uruçuí, 48ª cidade brasileira em produção de soja e 26ª na produção de milho. Foto: divulgação/Prefeitura de Uruçuí

Para a safra 2024/25, a área cultivada deve atingir mais de 90% da previsão de 1,147 milhão de hectares. Além disso, o Piauí ocupa a 8ª posição entre os maiores produtores de milho do Brasil, com uma produção de 2.591.483 toneladas em 2022.

Fatores que impulsionam o agronegócio no Piauí

As terras do Piauí apresentam custos acessíveis, especialmente quando comparadas às do Centro-Sul, o que as torna atrativas para investidores. A topografia plana do estado facilita a mecanização agrícola e a adoção de sistemas de alta produtividade. 

O pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Paulo Fernando Vieira, destaca que fatores ambientais e  técnicos são determinantes para o expressivo crescimento da área agrícola no Piauí. “A região do Cerrado Piauiense é extremamente promissora para a agricultura, pois é plana e com pluviosidade bem estabelecida durante certo período do ano. Porém a fertilidade natural é baixa e deve ser corrigida para atingir boas produtividades”, afirma

Vieira explica que a limitação de recursos para investimentos iniciais antes do plantio dificulta a situação de alguns produtores. No entanto, aqueles com maior conhecimento técnico, seja próprio ou com assistência privada, e com capacidade operacional, conseguem boas produtividades na região. 

O pesquisador ainda analisa que, embora tenha havido secas mais drásticas em alguns momentos, a única queda significativa na produtividade nos últimos 20 anos ocorreu na safra 2015/16. Nos últimos 8 anos, os produtores mantiveram boas produtividades em média.

“Isso gera receita para a abertura de novas áreas ou aquisição de propriedades menos eficientes. Os produtores de sucesso tendem a expandir suas próprias áreas para aumentar o lucro. A soja, em média, tem baixo valor agregado, o que faz com que pequenas áreas possam não ser tão rentáveis. Na safra 2023/24, o Piauí ultrapassou 1 milhão de hectares plantados de soja no estado, com potencial para crescer ainda mais”, avalia Vieira.

Além desses fatores, o Piauí tem se destacado pelos avanços tecnológicos, com o uso de técnicas adaptadas ao cerrado e um foco crescente em sustentabilidade.

As tecnologias e práticas desenvolvidas pela Embrapa foram fundamentais para a expansão da produção de soja e milho no estado

A Embrapa foi pioneira no desbravamento do Cerrado, com pesquisas desde a década de 1980. “Os trabalhos iniciados em Teresina contribuíram, inclusive, para a descoberta dos genes de período juvenil que permitiram a expansão da soja para todo o cerrado brasileiro. Até então a soja só era semeada no Sul do país e parte do cerrado, pois não crescia suficiente em outras regiões”, declara Vieira.

Além de seu trabalho em melhoramento genético, a Embrapa desenvolve projetos científicos para impulsionar a agricultura brasileira. Nos últimos anos, liderou o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), que indica os melhores locais e épocas para o plantio de soja e milho em todos os estados aptos. 

Para acessar essas informações, o produtor pode utilizar o aplicativo Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa. 

No Piauí e Maranhão, a Embrapa tem conduzido experimentos em parceria com a Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja-PI) e outros órgãos para determinar a quantidade adequada de correção de componentes, como o calcário, nos solos da região. O pesquisador alerta, entretanto, que os dados atualmente utilizados estão defasados, tornando urgente a publicação de novas informações, baseadas em dados precisos e atualizados.

O engenheiro agrônomo e diretor executivo da Aprosoja-PI, Rafael Maschio, inclusive menciona entre os principais desafios da expansão agrícola no Piauí o alto custo de abertura e correção do solo, incluindo processos como calagem, que corrige a acidez do solo, gessagem, que melhora sua estrutura ao fornecer cálcio e enxofre, e fosfatagem, que aplica fósforo essencial para o crescimento das plantas.

Além disso, há questões relacionadas à segurança jurídica, como a regularização fundiária, e aos processos de licenciamento ambiental.  Ele também enfatiza a necessidade de melhoria da infraestrutura logística do Estado.

 

Rafael Maschio (à esquerda) representou a Aprosoja-PI na assinatura da ordem de serviço da obra federal da BR-330, com presença do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Ribamar Bastos (ao centro), em outubro de 2022. A obra, que cruza o cerrado piauiense, é vista como chave para o desenvolvimento da região. Foto: divulgação/Aprosoja-PI

Sobre a adoção de novas tecnologias agrícolas, como sementes adaptadas e manejo do solo, Maschio ressalta que, embora o impacto seja extremamente positivo, é essencial avaliar a relação custo-benefício. “A correção da fertilidade do solo, a formação de palhada para o plantio direto, o uso de sementes e fertilizantes, o manejo integrado de pragas, a rotação de culturas, os sistemas integrados de produção, a mecanização agrícola e a agricultura de precisão, entre outros fatores, têm contribuído para um aumento significativo na produtividade das lavouras de soja, milho e outros cultivos no cerrado piauiense”, considera.

Sustentabilidade da produção

Maschio afirma que, no que diz respeito à garantia da sustentabilidade da produção, o produtor brasileiro, e especialmente o piauiense, já adota tecnologias agrícolas, como as mencionadas anteriormente, e, particularmente, o plantio direto, a rotação de cultivos e, mais recentemente, o uso crescente de bioinsumos, entre outras.

“Além disso, o produtor do Piauí destina 30% de suas áreas no cerrado para a Reserva Legal, além das APP’s (Áreas de Preservação Permanente). De maneira geral, uma boa gestão dos aspectos econômicos, sociais e ambientais tem garantido a sustentabilidade e o crescimento do setor no Estado”, afirma.

“A demanda mundial por essas commodities e a sustentação de preços que viabilizem economicamente os cultivos também são aspectos primordiais para garantir a sustentabilidade e o crescimento da produção agrícola no Estado”, conclui o diretor executivo da Aprosoja-PI.

Na próxima reportagem, “Políticas Públicas e Incentivos Fiscais: o Impulso para o Crescimento Agrícola no Piauí”, você confere os impactos dessas políticas na expansão da produção agrícola no estado nos últimos anos. Como o Governo tem atuado para atrair investidores e consolidar o Piauí como um polo agrícola estratégico? É essa a questão que o Portal Investindo Por Aí busca responder.

Não perca a próxima matéria da reporter Júlia Dal Bello.

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