A região Nordeste vem se destacando no cenário nacional pela expressiva alta na busca por crédito, tanto por consumidores quanto por empresas. Dados recentes da Serasa Experian mostram um crescimento significativo em sete das nove Unidades Federativas (UFs) da região, refletindo uma tendência nacional de expansão da demanda por recursos financeiros.

O economista e professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Joedson Jales, afirmou que, embora as expectativas não sejam muito favoráveis sob a avaliação do mercado financeiro, na economia real é preciso analisar sobre outro prisma já que, segundo o especialista, existe um “descasamento de expectativas” entre setores reais e financeiros. Famílias têm se encorajado a acessar novos créditos para adquirir bens e serviços e as empresas, para capital de giro e investimento.

“O Nordeste continua a crescer, pois muitas atividades são relativamente descoladas de eventos conjunturais. Segundo o IBC-Br do Banco Central, o nível da atividade cresceu 3,8% na região Nordeste, contra 3,4% da média Brasil nos últimos doze meses.  Assim, atividades como energias renováveis, mineração, fruticultura são resilientes a eventos de curto prazo. Além das ações de serviços, especialmente o turismo, que é muito forte na região”, disse.

Crescimento no Setor de Consumidores

Entre os consumidores, a busca por crédito aumentou em sete estados nordestinos no período de outubro de 2024. A Bahia liderou o crescimento, registrando uma alta de 8,9% em relação ao mesmo período de 2023, consolidando-se como o estado de maior destaque na região. O Rio Grande do Norte e o Ceará também apresentaram avanços significativos, enquanto Alagoas (-5,8%) e Sergipe (-0,2%) registraram retrações.

No contexto nacional, a procura por crédito cresceu 8,8% em outubro, reforçando a relevância do Nordeste como um polo de expansão econômica. O crescimento regional acompanha a alta demanda em cenários macroeconômicos desafiadores, marcados por inflação persistente e juros elevados.

Avanços na Demanda Empresarial

No segmento empresarial, a busca por crédito também mostrou força, com destaque para o Rio Grande do Norte, que registrou um aumento de 8,9%. Na Bahia, foram 1,8 milhão de solicitações acumuladas até novembro de 2024, representando um crescimento de 25% em comparação ao ano anterior. Pernambuco e Ceará também se destacaram, com crescimentos de 22% e 20%, respectivamente.

Novamente, Alagoas foi o único estado a registrar uma queda expressiva na demanda empresarial, com retração de 2,3%. Esses números refletem desafios estruturais e econômicos enfrentados pelos estados menores da região.

Setores em Destaque

O setor de serviços liderou a demanda por crédito no Nordeste, representando 40% das solicitações totais em 2024. Na Bahia, o crescimento do setor industrial foi de 30% em relação a 2023, impulsionado por investimentos em infraestrutura. Por sua vez, o comércio teve maior representatividade em estados como Pernambuco e Ceará, respondendo por 50% e 48% das solicitações, respectivamente.

Razões para o Crescimento

Diversos fatores explicam o aumento na busca por crédito na região. Uma delas foram as pressões econômicas, tendo em vista a inflação e o aumento do custo de vida que explicam, em parte, consumidores recorrerem a empréstimos. A expansão empresarial e a recuperação econômica contribuíram na busca de crédito por parte das empresas. Principalmente para capital de giro e expansão dos negócios. Além disso, o acesso facilitado com a digitalização das instituições financeiras e a presença de fintechs ampliaram o acesso ao mercado de crédito.

Para o economista e diretor de Planejamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Aldemir Freire, a região vive um ciclo intenso de crescimento econômico, o que gera uma conjuntura positiva do mercado de trabalho e da renda. Segundo Freire, o Nordeste segue tendência da economia brasileira, porém com mais intensidade, e vive um momento de crescimento do emprego formal com crescimento da renda do trabalho.

“A economia Nordestina será uma das locomotivas do crescimento brasileiro nos próximos dez anos. Para isso, por exemplo, o Banco do Nordeste está ampliando o volume de crédito ofertado na região, tanto via expansão dos recursos do FNE quanto da captação em outros fundings, junto a organismos multilaterais de crédito e a agentes financeiros nacionais. Essa maior injeção de crédito vai dar sustentabilidade financeira a esse crescimento e ser capaz de manter a economia da região crescendo a um ritmo mais acelerado que o da economia brasileira. Esse processo leva a uma maior redução das desigualdades regionais do país ao longo do tempo e permite também elevar as condições de vida da população local”, destacou.

Impactos Regionais

O aumento na busca por crédito trouxe impactos diversos para a região. Por um lado, a maior circulação de recursos estimulou a economia local, gerando oportunidades de crescimento. Por outro, o risco de inadimplência também cresceu, especialmente em estados como Alagoas e Sergipe.

Comparativo Anual e Mensal

Em termos de variação anual acumulada, o Nordeste apresentou um crescimento de 20% em 2024, superando a média nacional de 15%. Em março e setembro, o volume de solicitações superou 200 mil por estado nos principais mercados. Esse crescimento consistente é um indicador de dinamismo econômico e potencial de expansão regional.

Desafios Persistentes

Apesar dos avanços, desafios permanecem. As altas taxas de juros limitam o acesso ao crédito, e a concentração de solicitações em capitais como Salvador e Recife acentua as desigualdades regionais. Apenas 30% das solicitações vieram de regiões interioranas, destacando a necessidade de maior inclusão.

Segundo o professor Jales, o equacionamento dos principais desafios econômicos do país, como a questão tributária e o aumento do crescimento econômico, é importante para projeções futuras sobre o cenário econômico nacional e, sobretudo, da região Nordeste.

“A continuidade do avanço na demanda por crédito depende das condições macroeconômicas, fundamentalmente das expectativas. Essa ainda é uma questão aberta, posto que há muitas incertezas no cenário fiscal. Se a questão fiscal for minimamente equacionada, ou seja, se tivermos previsibilidade em relação à trajetória da dívida pública, a confiança se mantém. Também é preciso observar famílias e empresas que tomam crédito com expectativa de obter renda futura para poder honrar os compromissos. Isso indica que as expectativas das pessoas e empresas são positivas em relação ao futuro”, avaliou.

Perspectivas futuras

O Nordeste consolidou-se como uma região-chave na expansão do mercado de crédito no Brasil. Com políticas adequadas e maior inclusão regional é possível sustentar o crescimento econômico e reduzir desigualdades. A digitalização e a ampliação de parcerias público-privadas são consideradas essenciais para transformar o potencial financeiro da região em resultados concretos nos próximos anos. Aldemir Freire ressaltou que, apesar dos desafios que o Brasil enfrente, a projeção para o futuro por demanda de crédito deverá se mostrar positiva.

“Estamos em um ciclo que pode durar até dez anos de expansão dos investimentos na região, demandando um volume crescente de crédito. Claro que reconhecemos que o aumento de juros pode alterar essa dinâmica em 2025, todavia, acreditamos que afetaria mais no sentido de diminuir o ritmo de crescimento da demanda por crédito. Mas isso não significa que teremos uma menor procura por recursos financeiros na região. O Nordeste e o Brasil terão crescimento do PIB em 2025 a despeito da elevação dos juros. Isso garantirá uma demanda aquecida por crédito”, defendeu.