Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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11 de fevereiro de 2025 16:54

Da “árvore sagrada do Sertão” às taças de cristal: pesquisa desenvolve bebida similar ao espumante feita com umbu

Da “árvore sagrada do Sertão” às taças de cristal: pesquisa desenvolve bebida similar ao espumante feita com umbu

Embrapa desenvolve bebida alcoólica com boa aderência dos consumidores e que pode agregar valor aos produtores que dependem do umbuzeiro no semiárido nordestino
Umbuzeiro florido na seca | Foto: Divulgação/Embrapa

Geleia, licor, compota açucarada, xarope, suco. O umbu, fruto de casca esverdeada e polpa farta típico do sertão nordestino, tem ganhado, ano a ano, novas formas de processamento pelas mãos de pequenos produtores, e já é presença cativa na mesa de muitos brasileiros. Agora, a partir de um estudo realizado pela Embrapa, a fruta revela potencial para uma forma mais elaborada de consumo: o espumante. 

Estudo realizado pela Embrapa em colaboração com cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) usou o umbu como matéria-prima para a elaboração de bebida alcoólica fermentada e naturalmente gaseificada, do tipo vinho espumante.

A inovação foi desenvolvida pelos pesquisadores junto da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), localizada no semiárido baiano, entre os anos de 2020 e 2024, que teve como objetivo extrair do umbu um produto com alto valor agregado. 

A pesquisadora responsável pelo estudo, Aline Biasoto, explica que, a princípio, foram produzidas dois tipos de bebidas alcoólicas: uma sem a gaseificação, mais próxima do vinho, e uma com a gaseificação, similar ao espumante.  

“Fizemos os testes de consumo com as duas, mas o tipo gaseificada tem melhor aceitação, por ser um tipo de bebida tida como mais fresca, com mais ad

Produção de Umbu | Foto: Divulgação

erência ao público brasileiro. Para nossa surpresa, não foi necessário grande adição de açúcar. Os testes com os potenciais consumidores mostraram que a bebida é muito bem aceita mesmo na sua forma mais pura possível”, afirma. 

A inovação usou o método tradicional de produção de espumantes, também conhecido como método Champenoise, caracterizado por duas fermentações, sendo a segunda na garrafa. 

O método é originário da região francesa de Champagne e é utilizado também para produzir os espumantes Cava, na Espanha, e Franciacorta, na Itália, e é considerado um dos mais artesanais e, por isso também, dos mais saborosos.  

Biasoto explica que a forma de produção artesanal, além de conferir mais sabor e qualidade à bebida, foi escolhida por ser facilmente reproduzível pelas cooperativas e pequenos produtores, uma vez que não exige ferramentas e maquinários mais complexos.  

A árvore sagrada do Sertão

Popularizada como “árvore sagrada do Sertão” pelo escritor Euclides da Cunha, o umbuzeiro, originário dos chapadões do semiárido brasileiro, tem grande resistência às secas da caatinga, e é uma importante fonte de renda e de nutrição para milhares de famílias sertanejas. 

A fruta é uma das principais fontes de vitamina C no semiárido. É rico em vitaminas A, C, e B1, cálcio, ferro, fósforo, proteínas, carboidratos e niacina. Embora o umbuzeiro seja uma árvore longeva e resistente, o umbu é uma fruta perecível, e pode sofrer grande perda nas colheitas. 

Por isso, o uso para a produção de bebida similar ao vinho espumante é uma estratégia de agregação de valor e diminuição das perdas, capaz de atrair consumidores interessados em bebidas inovadoras com matérias-primas alternativas. 

Espumante de Umbu
Espumante de Umbu | Foto: Divulgação/Embrapa

“A inovação poderá contribuir para a melhoria da economia circular em uma das regiões mais afetadas pela escassez de água, fortalecendo a agricultura familiar e extrativista no bioma Caatinga”, afirma a pesquisadora da Embrapa. 

Ela chama atenção, no entanto, que a bebida criada não pode ser considerada um espumante propriamente. Isso porque para ser chamada de espumante a bebida precisa necessariamente ser produzida a partir da uva. É o caso da cidra, bebida cujo processo de produção é o mesmo do espumante – fermentação e gaseificação natural -, mas feita com maçã, e por isso batizada com nome próprio. 

Caso a bebida elaborada pelos pesquisadores ganhe o interesse dos produtores, deverá ganhar um nome próprio de bebida para que tenha, assim como o espumante e a cidra, apelo comercial. “No gosto dos consumidores nós garantimos que ela já caiu”, brinca a responsável pela criação da bebida exótica.

Esta matéria integra a série especial Mercado de bebidas no Nordeste: tradição, inovação e experiência autêntica apresentada pelo Investindo Por Aí. A primeira, sobre o fortalecimento do enoturismo em Pernambuco, pode ser acessada por meio deste link, enquanto a segunda, sobre cerveja artesanal criada no semiárido baiano, pode ser lida aqui.

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