Nos últimos dois anos, o setor imobiliário de alto padrão no Nordeste teve um crescimento de 85%, segundo pesquisa feita pela Brain Inteligência Estratégica e encomendada pela Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE). O setor, em ascensão, reuniu um lançamento de 1.143 unidades no segmento de luxo e superluxo – o que corresponde a 3% das vendas imobiliárias da região e 25% do valor total das transações imobiliárias.

Mas, o que está impulsionando a alta desse mercado nas cidades nordestinas? Há uma combinação de fatores que justificam esse crescimento, como o fortalecimento econômico da região, impulsionado por investimentos em infraestrutura, turismo e tecnologia. Sacha Myrna, CEO da X Metros Quadrados Soluções Imobiliárias em Imóveis de Luxo, afirma que cidades como Recife, Fortaleza e Salvador estão se consolidando como pólos atrativos para grandes empresas e novos negócios, o que naturalmente aumenta a demanda por imóveis sofisticados.

Além do desenvolvimento econômico, a qualidade de vida e o clima também são aspectos relevantes para esse boom imobiliário. “Nós temos uma região tropical, com imóveis de alto luxo e preços acessíveis comparados a alguns estados. Aqui, as pessoas conseguem comprar mansões, frente-mar, com preços ótimos”, diz Carla Hansen, corretora e proprietária da Hansen Imóveis. O investimento no futuro também tem impulsionado o crescimento de imóveis de luxo na região, já que muitas famílias desejam adquirir um imóvel para relaxar ou, até mesmo, para alugar por temporadas. “Muitos proprietários, além de comprar o imóvel para seu próprio uso, disponibilizam a locação para períodos de altíssimas temporadas, o que dá uma boa rentabilidade durante o ano.”, completa a corretora.

As cidades que recebem esse crescimento do mercado imobiliário de luxo, por sua vez, conseguem se modernizar, tornar-se mais competitivas e elevar seu padrão de desenvolvimento. É o que diz Evislan da Silva Souza, presidente da Ademi-SE. Para ele, o mercado imobiliário de luxo não se resume a grandes empreendimentos, ele movimenta toda uma cadeia econômica.

Desenvolvimento do turismo e geração de empregos

A valorização do mercado imobiliário de luxo tem contribuído para o desenvolvimento do turismo da região, uma vez que ambos caminham juntos. Cidades nordestinas, que atraem investimentos em imóveis de alto padrão, fortalecem o turismo local, trazendo consumidores exigentes e com alto poder aquisitivo. Evislan explica que, quando um destino oferece empreendimentos bem estruturados, serviços de qualidade e infraestrutura urbana moderna, ele torna-se mais atrativo. “Aracaju, por exemplo, tem uma das melhores orlas do Brasil, e a chegada de novos empreendimentos qualificados tem um impacto direto na valorização da cidade como destino turístico. Isso movimenta hoteis, restaurantes e comércio, gerando um ciclo positivo para a economia local.”

Além disso, a alta desse mercado imobiliário possibilita a geração de empregos e capacitação profissional no setor da construção civil, um dos maiores empregadores do Brasil. O segmento de luxo exige um nível de qualificação profissional ainda maior, permitindo que engenheiros, arquitetos, eletricistas, mestres de obras e outros diversos profissionais especializados tenham oportunidades reais de trabalho.

No entanto, a qualificação é algo essencial e vai além da contratação. O presidente da Ademi-SE afirma que programas como o Qualifica Sergipe – qualificação de trabalhadores sergipanos em máquinas e equipamentos agrícolas – tornam-se essenciais. “Quanto maior a especialização da equipe, maior a qualidade das obras e melhores são as oportunidades salariais para os profissionais envolvidos.”

Desigualdade social, gentrificação e superoferta

Com todo esse boom do mercado de luxo imobiliário no Nordeste, fica inviável não pensar na desigualdade social nas principais cidades e como uma possível superoferta pode impactar o setor a longo prazo.

No entanto, Evislan explica que o problema não está no desenvolvimento do setor de luxo, mas, sim, na falta de um planejamento urbano eficiente para equilibrar esse crescimento. “Quando uma cidade não se organiza, muitas famílias de baixa renda se deslocam para áreas periféricas, fenômeno chamado de gentrificação.” Por isso, é necessário que o poder público garanta políticas de habitação acessível e infraestrutura para toda a população, a fim de evitar esse conflito.

O mercado imobiliário como um todo precisa sempre estar se planejando e estudando sobre as demandas do setor. O presidente da Ademi-SE explica que o risco de superoferta existe quando os lançamentos não acompanham o crescimento real da procura, e que o segredo é atuar com inteligência e previsibilidade. “O Nordeste ainda tem uma demanda forte por imóveis de luxo, mas isso precisa ser monitorado de perto. Se houver excesso de estoque, o setor pode sofrer desvalorização e prejudicar a rentabilidade dos investidores.”

Novo perfil

O perfil do comprador de imóveis de luxo vem mudando durante os últimos anos, principalmente por conta da internet. O mercado, que antes era dominado por empresários locais ou investidores tradicionais, hoje também recebe empreendedores e influenciadores digitais, que buscam experiências personalizadas, inovações e sustentabilidade.

Felippe Fagundes, CEO da 2F Imobiliária, no Rio de Janeiro, explica que os “novos ricos” estão dominando o mercado de luxo. “Com o seu público e sua audiência nas redes sociais, você gera lucro e, possivelmente, consegue comprar um imóvel de R$ 3 ou 4 milhões que um trabalhador normal não compraria nunca. Então, a internet está fazendo novos ricos muito fácil.”

Sacha Myrna explica que, hoje, os projetos mais desejados pelos compradores não se limitam apenas a apartamentos urbanos espaçosos com vista para o mar ou parques, mas, sim, a uma experiência completa de moradia, e que os atuais investidores valorizam  imóveis inteligentes, com automação integrada e tecnologia sensorial. Além disso, há uma demanda crescente por residências que promovam bem-estar, com academias de última geração, espaços de meditação e áreas verdes planejadas para a reconexão com a natureza e esportes.

O futuro dos imóveis de alto padrão no nordeste é bastante promissor, já que a região tem se consolidado como forte destino turístico e suas características climáticas e econômicas contribuem, também, para moradia e investimentos cada vez maiores. Sacha Myrna acredita que a integração entre luxo e sustentabilidade será um fator decisivo, com projetos que utilizam inteligência artificial para otimizar o consumo de energia e materiais ecologicamente responsáveis na construção.

Além disso, espera-se um aumento significativo na presença de investidores estrangeiros, impulsionados pela valorização da moeda local e pelo crescente reconhecimento do Nordeste como um hotspot global para imóveis de alto padrão. “Nos próximos 5 a 10 anos, veremos um mercado ainda mais sofisticado, onde luxo e qualidade de vida caminham juntos, e onde as fronteiras entre moradia, lazer e tecnologia se tornam cada vez mais fluidas”, afirma a CEO da X Metros Quadrados Soluções Imobiliárias em Imóveis de Luxo.