O Nordeste brasileiro, muitas vezes associado a desafios históricos, emerge hoje como um protagonista incontestável na corrida global pela sustentabilidade. Com seu imenso potencial em energias renováveis e uma riqueza cultural que incorpora saberes ancestrais de adaptação, a região tem tudo para se consolidar como uma verdadeira vitrine verde do Brasil e do mundo. No entanto, para que esse potencial se traduza em realidade plena, é crucial superar obstáculos persistentes, especialmente a carência de políticas públicas estruturantes.
Nossos estados nordestinos são líderes na produção de energia eólica, concentrando impressionantes 93% da geração nacional, e despontam também na solar. Essa vocação natural para fontes limpas é um ativo inestimável em um cenário global de urgência climática. A expertise local, que combina tecnologias de ponta com o valoroso conhecimento ancestral, como a bioeconomia e práticas de manejo sustentável, oferece um diferencial competitivo e um modelo de desenvolvimento verdadeiramente integrado. Todo esse panorama compõem a série de reportagens Nordeste Sustentável, que o Investindo Por Aí publica ao longo dessa semana. Esse material já serve como uma fundamentação da cobertura que se avizinha da COP30, que ocorre em novembro.
Um dos maiores desafios da região ainda reside na gestão de resíduos sólidos. Apesar da população expressiva e da vasta área territorial, a destinação inadequada do lixo persiste, com 65% dos resíduos indo parar em lixões e aterros controlados. Essa realidade, além de gerar graves impactos ambientais, representa uma perda financeira significativa.
No entanto, mesmo diante desse cenário, o Nordeste demonstra sua capacidade de inovação. Iniciativas como a startup baiana SOLOS, que transforma resíduos em riqueza através de consultoria, compostagem e logística reversa, mostram o caminho para uma economia circular.
Projetos como o “Folia Que Vira”, no Carnaval de Salvador, e o “SOMA Vantagens”, que incentiva a reciclagem através de benefícios, evidenciam a criatividade e o engajamento local para enfrentar o problema. Essas são sementes de um futuro mais limpo e próspero.
O papel fundamental do financiamento sustentável
Para que todo esse potencial floresça, o acesso ao crédito é vital. O Banco do Nordeste (BNB) tem desempenhado um papel crucial nesse sentido. Com R$9,5 bilhões em crédito destinados a projetos enquadrados na política da Nova Indústria Brasil (NIB) apenas em 2024, o BNB demonstra seu compromisso com a transição energética, a bioeconomia, o saneamento e as cadeias agroindustriais sustentáveis. Exemplos como o da Fazenda Grangeiro, no Ceará, que utilizou recursos para instalar energia fotovoltaica em sua produção de água de coco, ilustram como o financiamento direcionado pode impulsionar a sustentabilidade na prática.
O Nordeste tem a chance única de se firmar não só como um celeiro de energia limpa, mas como um laboratório de soluções sustentáveis e um modelo de desenvolvimento que integra o progresso econômico com a preservação ambiental e a inclusão social. Para isso, é imperativo que os governos, em suas diversas esferas, abracem esse potencial com políticas públicas ambiciosas e eficientes.
Afinal, o que falta para o Nordeste desabrochar de vez como a vitrine verde que o Brasil e o mundo precisam? A resposta talvez resida na convergência de esforços e na crença inabalável de que a sustentabilidade não é um custo, mas um investimento no futuro.
